Capítulo 19
Adormecida
Há coisas que não se medem, nem se encantam pela medida. Começam a se mostrar timidamente no amanhecer enquanto todos estão dormindo.
É um dia novo. As folhas úmidas da neblina da noite, mal se mexem à espera do sol. E dentro de uma das barracas uns olhos começam a despertar sem se abrir.
Roberta se aconchega em Diego. O peito nu a recebe deitada, sentindo as mãos dela a acariciá-lo ainda a dormir. Talvez em sonho consiga realmente sentir com quem está. Talvez o cheiro da pele denuncie. Ou seria o tato? Quem sabe seja somente mais um segredo que os sentimentos guardam. Esses segredos que nos faz sentir que de tão conectados, podemos saber que estamos juntos sem ao menos os sentidos perceberem.
A rebelde abre e em seguida fecha os olhos, em um sorriso preguiçoso. Estica mais os braços e se junta ainda mais a Diego. O abraço debaixo do cobertor, de tão bom, até parece dopá-la, nem percebe o que acontece. Tem seu rosto sob o queixo de Diego podendo ouvir o som de sua respiração calma. Sente as mãos dele sobre sua cintura a apertar e deslizar como se sonhasse com ela. E tudo era sonho afinal, um sonho que dormindo era muito verdadeiro.
Ao tomar consciência, depois de breves segundos, ela se levanta assustada. Olha ao redor e antes que possa perguntar qualquer coisa a Diego, ele acorda com as vozes que escutam chegar em tom de problema.
Em um impulso, os dois saem da barraca rapidamente encontrando os amigos mais adiante conversando nervosos.
-Mas talvez ele tenha saído cedo!
-Como cedo Tomás? -Carla está preocupada. -A barraca tá do mesmo jeito que a gente viu ontem quando chegou da cachoeira!
-O que tá acontecendo? -Diego se aproxima.
-Olha isso?
Diego observa a barraca de Vicente. Há uma lanterna acesa, e um cobertor enrolado. Com a barraca fechada, parecia alguém dormindo. E foi o que pensaram quando viram no dia anterior, que o professor havia dormido com tamanha demora.
-Eu vim perguntar ao Vicente se ele ia querer fazer rapel com a gente. Tô achando isso muito estranho. Ele não ia deixar a gente sozinho ontem. -Pedro desconfia de algo muito errado.
-Eu não sei, mas e se aconteceu alguma coisa com ele nesse mato? Um urso pode ter comido ele!
-Dã! -Roberta bate na cabeça de Tomás. -No Brasil não tem urso bobão!
-É, mas tem outros animais!
-O Tomás tá certo, é melhor a gente procurar ele!
Os meninos saem à procura de Vicente enquanto as meninas aguardam ansiosas. Ninguém sabe ao certo o que pode ter ocorrido, mas a preocupação aumenta conforme o tempo passa. Alice anda de um lado e outro enquanto Carla e Roberta ficam caladas com uma expressão tensa.
-Ai, mas já faz muito tempo que os meninos foram!
-Calma Alice, faz pouco mais de uma hora, logo eles voltam.
Carla ao dizer isso, percebe que Roberta não comentou nada sobre o ocorrido até o momento. Está muito quieta, o que não é muito normal para ela.
-Tudo bem Roberta?
-Porque? -Ela fica desconcertada.
-Não, é por que você tá...
O toque de mensagem do celular interrompe. Carla verifica.
-Ei, eu também recebi. -O celular de Alice toca e em seguida o de Roberta.
-É do Vicente gente! -Alice se espanta.
-Ele diz que saiu muito cedo e não quis nos acordar. Diz também que não vai voltar porque tem que resolver alguns problemas pessoais no loft, e que já avisou nossos pais que a gente vai passar o resto do dia sozinhos.
As meninas se olham estranhando. Roberta termina de ler a mensagem do professor que enfim dava sinais de vida.
-Isso é estranho...
-Estranho nada Carla! -Alice intervém. -Vai ser ótimo passar o dia todo sem ninguém vigiando a gente namorar...
-Por falar em namorar... -Carla mira em outro canto alguém se esquivando. -Roberta, você e o Diego por acaso...
-Não!! -A rebelde é rápida. -Quer dizer... não sei... -Ela coça a cabeça.
-Como assim não sabe? -Alice começa um sorriso malicioso.
-A gente dormiu foi só isso!
-Na mesma barraca né!!
-Além do mais, Carla, eu não senti nada diferente quando acordei...
-Mas a gente se sente diferente depois de... -Alice não termina. -Ah, vocês sabem!
No exato momento em que Carla iria começar a falar, os meninos surgem pela trilha.
-Vocês receberam a mensagem do Vicente?
E começa de novo as explicações do sumiço do professor. Todos não entendem bem os motivos que levaram Vicente a sair assim, sem se despedir deixando todos aflitos, mas era hora de curtir o restante do dia que por sinal tinha uma beleza que saltava aos olhos.
-Vamos fazer rapel?
-Vamos!! -Todos respondem de uma só vez, e enquanto arrumam as coisas, Roberta chama Diego para que os outros não ouçam.
-Essa noite, nós dois?... -Ela gesticula. -O que...
-Eu adorei cada segundo ao seu lado... -Ele passa a mão pelo rosto dela e tem a voz suave enquanto fala.
-Mas Diego...
-Você ficou toda mole nos meus braços. Nós ficamos sozinhos e eu te levei pra minha barraca...
-E...?
-Você fica linda adormecida. -Ele continua carinhoso. -Parece que é só minha. Eu pude ter você pra mim toda a noite!
-Hã? -Roberta começa a ficar assustada.
-Você é linda, toda linda! -Diego a trás pela nuca dando um beijo em sua boca antes de sair.
Roberta fica tonta e sem acreditar que não se lembre de nada.
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