sexta-feira, 29 de março de 2013

A História de Roberta e Diego 1ª Fase

Capítulo 3
Novidades e recomeços pela frente
O porão quase vazio, quieto e em pleno anoitecer, presencia trocas fixas de olhares entre os dois. Roberta ao vê-lo, para no último degrau da escada, sem saber ainda o que quer fazer. Ele está no sofá e havia se virado totalmente para vê-la, mas não havia mudado no rosto a mesma expressão de antes, era como se qualquer pessoa tivesse entrado. Não esboçou reação.
 Roberta percebe rápido, e isso provoca nela uma vontade súbita de sair daquele lugar. Doía tanto aquela frieza que era melhor voltar pelo mesmo caminho a enfrentar uma situação, que em qualquer outro momento, ela sempre se poria a enfrentar. Mas sua selvageria se desmontava perto de Diego. O que dizer? Ela sabia que a mão que estava firmada no corrimão da escada, se fosse solta, a derrubaria. Não havia forças para falar, muito menos para se manter ali diante dele.

-Espera! -Assim que ela se vira, Diego a chama, se levanta e caminha até a escada. A olha ao alto já do terceiro degrau. A expressão agora no rosto de Roberta é colocada como um muro entre eles. Fica parecendo impossível atravessar um escudo protetor de uma menina tão arisca.
-Sobre hoje no jardim... -Diego faz uma pausa e procura falar de modo cauteloso. -Eu preciso me desculpar com você.
-Ah! Então é isso?... -Ela fica desapontada. -Tá se desculpando pelo que exatamente?
-É que... Foi um erro.
Roberta mais uma vez, não esperava por isso, mas não fraqueja.
-Foi mesmo. Não se preocupe.
E ao tentar levar o pé a frente ela ressuscita uma última coragem. Se tudo estava perdido, tentar de novo não custaria mais que algumas outras cicatrizes.

-Você me esqueceu rápido pelo visto, né?
-Era o melhor a fazer. -ele continua firme.
-Jura? -Ela se aproxima fazendo Diego balançar. Ela fica bem na frente dele, o encara. Vai diminuindo a marra e provocando com a voz mais amansada.
-Jura que não sentia saudade da minha boca? -Ela o deixa sem resposta e tenso, mas continua:
-Do gosto dela?... Não sentiu?
 Eles ficam muito próximos, os olhos formam uma linha, estão quase se fechando.
Diego volta a si e empinando o queixo, ele traz de volta a cabeça no lugar, se distanciando do que já parecia certo de acontecer.
-Foi um erro. -Reafirma.
-Ok... Esse erro eu não cometo mais. Nunca mais.
 Roberta fica abalada, tenta subir a escada. Diego sente as forças e o orgulho serem abafados por uma vontade maior que o orgulho, o que o faz segurá-la pelo pulso impedindo que vá.

-Foi um erro sim... Eu esperei demais... -E dizendo isso ele a puxa da escada, trazendo-a nos braços, trazendo-a à boca. Deixa Roberta sem tocar o chão. Presa ao pescoço dele, nos movimentos de carinho, de desejo, de saudade. Uma saudade molhada, quente e faminta.
 Ele a desce aos poucos até o chão, sentindo-a escorrer o corpo delicadamente pelo dele.
 As horas se sucedem com um amor preservado, visto de camarote somente pelos velhos móveis, tralhas e instrumentos musicais espalhados por todo o canto daquele porão.
 Tudo deveria voltar ao normal, ou melhor que o normal. Era hora de reconstruir o que nunca havia deixado de existir.

 -Não pai eu já disse que eu não sei da Roberta. Mas o que tá acontecendo?
Roberta entra no quarto neste instante, e entendendo que é Franco no telefone, faz sinal para que Alice não diga que ela está ali.
-Tá pai, eu aviso, mas você não pode me adiantar o que é?...Ah, sim amanhã? Claro é sábado a gente se fala então... Beijo.
-O que ele queria?
-Reunião de família.
-Ah, não... -Roberta se joga na cama.
-É, e eles vem buscar a gente e tudo!
-Buscar? Mas o motorista sempre busca!
Alice leva o dedo a bochecha e fica pensativa:
-Sei não, aí tem coisa.
Alice tira o foco do telefonema de Franco ao perceber algo diferente em Roberta.
-E você?
-Eu o que? -Roberta disfarça.
-Tá diferente...! O que aconteceu que eu não tô sabendo? -Ela ri desconfiada.
-Nada, não aconteceu nada. Vou tomar banho!
Roberta corre ao banheiro com um sorriso que teima em aparecer, e que faz Alice, num tom satisfeito, ligar todos os pontos.

O carro estaciona diante dos portões do Elite Way. Franco retira os óculos de sol e cumprimenta filha e enteada.
-A Eva não vinha com você? -Alice questiona.
-Ela tá doente.
-Minha mãe doente? -Roberta não acredita. -Mas minha mãe nunca fica doente!
-O que ela tem? -Alice fica preocupada.
-Nada demais. -Franco tenta tranquilizá-las.
-Deve ser algum fã que mandou cravos ao invés de rosas, aí ela caiu em depressão...
-Roberta!
-Ah, Alice você não conhece Eva Messi como eu! Adora fazer um teatrinho pra chamar atenção!
-Você se engana Roberta. -Franco é sério ao falar. - Ela nem vai fazer shows esse mês... Está com os nervos abalados.
-Sério? Mas minha mãe ama fazer show, ela nunca falta.
Franco não parece brincar.
-Caraca, então é serio? -Alice fica nervosa, mas Roberta interrompe aflita:
-Vamos logo então!

Os três seguem para casa, enquanto Pedro, Diego, Tomás e Carla rumam à Vila Lene. Os meninos vão até a casa de Pedro e Carla segue até o loft.
-Carla quanto tempo! -Marcelo faz graça ao abrir a porta. -Entre a casa é sua! -Ele faz reverência e sorri exageradamente simpático.
-Ah, deixa disso, a gente se viu ontem no colégio professor!
-Não, não! -Ele balança o dedo e a cabeça, enquanto franze a testa. -Quem você viu lá foi o professor Marcelo, aqui sou somente um ser humano habitando este humilde lar!
Carla ri e brinca por um tempo, até que se lembra porque veio.
-Ah, professor...
Marcelo faz cara de desaprovação.
-Desculpa! -Ela concerta: -Marcelo...É que eu vim aqui pra saber se chegou alguma coisa pra mim.
-Chegou sim. -Vicente surge trazendo uma carta. -Chegou ontem... Desculpa, com tanta coisa, eu acabei  esquecendo de te entregar.
Carla abre ansiosa, e bastante animada o pequeno envelope. Rasga impaciente e logo fica eufórica:
-Eu consegui!

 Já na mansão, Roberta entra como um raio, sem ao menos ter esperado Franco e Alice que ainda vinham atrás.
 -Dani, cadê a minha mãe?
 -Ela tá no quarto mas... -A empregada nem acaba de falar e a rebelde já subiu todo o restante das escadas. Abre a porta do quarto da mãe, e a vê dormindo.

 Roberta freia bruscamente com a imagem à sua frente. A intensidade dos passos diminuem. Se aproxima devagar e senta bem ao seu lado. Passa a mão pelos cabelos dela, que dorme com o corpo virado para cima, e o rosto um pouco inclinado.
-Mãe...? -Ela sussurra.
-Filha...Oi... -Eva abre os olhos morteiros, mas lhe falta o sorriso de sempre.
-O que houve?
-Nada não, eu tô bem... -Eva levanta e se encosta na cabeceira da cama.
-Mãe, eu nunca te vi de cama!
-Ah, Roberta eu já já fico boa.
-Me conta agora o que tá acontecendo!
-Não tá acontecendo nada. -Franco interrompe a conversa e Alice vem em seguida a cumprimentar Eva.
-Oi Eva... Tudo bem? O que houve?
Mas antes que qualquer resposta seja dada...
-Depois vocês conversam. -Franco é rígido. -Eu preciso apresentar alguém à vocês meninas.

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