Capítulo 26
Lábios trêmulos
Ele prossegue sério, aumentando a estranheza de Roberta. Mas a garota não consegue resistir e sorrindo se aproxima e lhe morde o pescoço.
-Anda, que houve pra você tá com essa cara?
-Ah... A gente ainda não conversou.
-Estamos conversando agora! -Ela não leva à sério.
Eles vão diminuindo o ritmo dos passos e ficando para trás de propósito.
-Roberta, porque essa implicância com a Marina?
-Ah! Jura que você quer falar dela?
Os dois ficam em silêncio e param frente à frente emburrados.
-Diego... -Ela diz com voz suave.
-Não faz isso... -Diego desvia os olhos amolecendo.
-Fazer o que?
-Você fica me olhando e assim não vale...
Roberta sabe fazer de um jeito travesso que Diego não resiste e a abraça. Beijinhos se espalham pelo rosto dela desordenados entre sorrisos bobos.
-Ei, vocês dois! -Tomás interfere já bem adiante com os demais. -Dá pra ser ou tá difícil?
-Tá! -Roberta agarra o braço de Diego, e eles seguem.
-Você não acredita que ela seria mesmo capaz de...?
-Você pode me dar certeza de que ela não seria capaz?
O rebelde fica sem resposta. A verdade é que não conhecia Marina tão bem assim para afirmar qualquer coisa sobre ela. Tudo que sabia eram coisas vagas, que não acrescentavam muito, mas mesmo assim não conseguia pensar qualquer mal dela. Diego apesar disso, não segue em sua defesa, afinal que importa? Tudo parece uma grande bobagem. Ficar bem com Roberta, podendo curtir a noite ao seu lado, é o que realmente vale.
Carla se prepara enquanto na platéia, seus amigos permanecem ansiosos.
-Ela é a terceira?
-Sim, a terceira dupla.
-Precisa me lembrar disso Pedro?
-Disso o que Tomás?
-Ué? Eu tô querendo esquecer que ela vai dançar com outro!
-Com você que não seria né? É um perna de pau! -Pedro zoa o amigo.
-Ha, ha, ha!... Eu só quero que isso acabe logo!
-Deixa de ser idiota cabeça! Isso é importante pra ela! É só uma dança, larga mão de ser ciumento!
-Eu já larguei! Só que...
Um casal incomodado com a discussão começa a reclamar.
-Tá, tá, foi mal... -Tomás se vira e todos se calam com ar de riso, enquanto o namorado de Carla continua de braços cruzados e um bico imenso!
Ela surge no palco acompanhada de seu par e os dois se apresentam. As meninas ficam de queixo caído com o estilo do rapaz.
-Nossa!
-Que foi Alice? -Pedro se espanta.
-Nada! A Carla é ótima, só isso...
-Sei...
Os rebeldes se divertem na apresentação de Carla e com o show que Tomás dá, fazendo caras e bocas toda vez que achava que tinha mão de mais aqui ou ali.
Diego repara que Roberta não se pronuncia.
-Tudo bem?
-Claro! -Ela sorri.
Engolindo seco a rebelde não consegue tirar os olhos da moça que senta em sua frente. A camiseta vermelha e os cabelos negros trazem lembranças recentes.
-Roberta!
Diego chama pela namorada que se levanta às pressas rumo à portaria.
-Gente o que deu nela?
Ele mal ouve a pergunta de Alice. Antes que ela termine de falar Diego já está quase alcançando Roberta.
-Ei... -Ele a segura pelo braço.
-Eu quero voltar pro colégio!
-Que houve? A gente tava se divertindo!
Ela fica em silêncio e olha para o chão. Diego segura seu queixo e trás o olhar dela ao seu.
-Quer dar uma volta comigo?
Um passo após o outro. As mãos apertadas uma à outra faz com que ela sinta no peito uma segurança que ninguém mais lhe dava. A rua iluminada ao lado da praia, acompanha várias pessoas naquele final de noite.
-Está linda né? -Roberta olha para o céu.
-Concordo. -Diego olha para ela.
-Ela me faz bem...
-Você nem imagina o quanto.
Distraída, Roberta não percebe que Diego não está olhando a noite.
-Você também gosta?- Ela continua sem percebê-lo.
-Não.
Ela para e finalmente se volta para ele.
-Não?
-Não...Eu amo...
Ele pega seu rosto e beija sua boca por longos segundos. Ela tem os lábios trêmulos. Diego conhece seu beijo e percebe que há algo de errado.
De volta ao colégio, ele a leva até o quarto. Está tudo escuro, mas eles temem acender as luzes e serem pegos. Ao entrar pela janela, a rebelde continua fugindo ao assunto, mas o namorado insiste.
-Acho que ninguém desconfiou... -Roberta é a primeira a entrar e não encara Diego.
-Você não vai me falar o que aconteceu?
Ela fica em silêncio por alguns instantes.
-Eu me lembrei... E tive...
-Medo.
-Não! -Ela tenta se enganar.
-Roberta, todo mundo sente medo. Isso é normal depois de...
-Eu não quero falar do que aconteceu... Vai passar, eu prometo...
Ela se senta na cama, a luz do abajur mal ilumina seus rostos. Diego segura sua mão.
-Bem, eu já vou...
Ele se levanta mas Roberta o segura.
-Fica.
O rebelde para diante dela e volta a se sentar.
-Ficar?
Roberta faz sinal positivo com a cabeça e se arrastando sobre a cama, ela o beija.
Tão tarde para que ficasse e tão cedo para que partisse.
Ele não resiste ao pedido, e sabe bem o que pode acontecer aceitando. Mesmo assim o desejo não o deixa se importar com nada.
Eles vão se deitando devagar e o arrepio vai tomando conta da pele. Ao se projetar sobre ela, Diego aumenta a intensidade e a profundidade dos beijos.
Está tudo muito quieto, somente o som da respiração desordenada soa naquele quarto. Roberta sente o calor das mãos dele debaixo de sua blusa. Lhe invadem as costas, à cintura e quase sobem. Mas Diego sabe o momento certo para cada toque. Devagarinho a vai sentindo sem pressa, sem assustá-la. Roberta não oferece resistência. Os carinhos e as palavras vão tecendo a canção única que ninguém jamais ouviria além deles. Beijos no rosto ao sair da boca, descem ao pescoço até se aproximar da pontinha da orelha, que não escapa dos carinhos.
Ela vira o rosto e por um instante abre os olhos e o abraça apertado sobre si. Sente o corpo de Diego pesando sobre o seu e pensa que o mundo deveria parar ali. Queria tê-lo por todas as horas de uma vida inteira. Ao fechar novamente os olhos ela já não pensa. Desliga os sentidos da racionalidade e se entrega totalmente aos braços dele.
A luz do abajur acompanha a luz do céu que entra pelo vidro da janela. Eles não ousam interrompê-los, mas vão deixando ainda mais bonita a cena, ainda mais mágica, ainda mais deles...
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