segunda-feira, 15 de julho de 2013

A História de Roberta e Diego 1ª

Capítulo 23
 O culpado


Diego ouve e mal acredita. Atravessa a porta como um raio após os poucos instantes que a ligação havia durado.
 Desce as escadas e não é percebido, mas nem se importa nesse momento. Ele volta a fazer a mesma fuga da noite anterior, não está nem um pouco arrependido, e tanto faria tudo de novo que estava fazendo. Porém desta vez pediria ajuda.
 Nada poderia dar errado, a vida de quem amava estava em jogo. Era tudo ou nada.


 Inquieta, Roberta tenta soltar as mãos das cordas que desde mais cedo estava desfiando em um prego. A velha cabana, tinha o chão coberto de palha seca e poeira. A rebelde ainda de olhos vedados, estava deitada em um colchão pequeno em um canto, perto de uma mesa. O frio começava e o pé, apesar dos cuidados que havia recebido, ainda doía. O homem, que havia feito esses cuidados, e que era no mínimo cúmplice da mulher, já não estava no local.
 Roberta percebia por que tudo estava muito calado. O pouco tempo que esteve ali com o tal homem, pode perceber o quanto era desajeitado. Vivia sempre falando sozinho e derrubando as coisas. Restava saber se estava sozinha.
 Ao levantar o rosto, ela percebe que a fita que lhe impedia a visão começa a se soltar no canto direito do olho. Apesar de um pouco embaçado, ela vê que uma mulher com pouco mais de vinte anos, vestindo um jeans e uma camiseta vermelha. Está dormindo de costas para ela no outro canto do cômodo. O rabo de cavalo amarrado frouxo, deixava o cabelo negro e comprido cobrir o chão.
 Roberta arrebenta o resto da linha da corda já estava bem desfiada e retira a fita dos olhos. Existe pouca luz no local.
 Ela pisa devagar. Os pés haviam sido desamarrados mais cedo, para que fossem feitos os curativos, e talvez por pena o cara não quisesse lhe provocar mais dor pressionando uma corda sobre um pé torcido a deixando então livre.


  A madeira seca ringe conforme ela prossegue escorada na mesa. A cabana estava construída no alto e pelos buracos na madeira era possível ver o chão que apesar de ser madrugada estava claro pela iluminação que o céu doava. Ao chegar enfim à porta, ela nota que está fechada com um cadeado. O coração acelerado não sabe se volta ou se procura outra saída. Olhando em todos os cantos ela não vê nada parecido com uma chave e logo fica temendo despertar a mulher, que sob o travesseiro, revela agora uma arma.

  Alice e Carla saem de fininho. Com tudo que estava acontecendo não haviam sido obrigadas a irem para o colégio, mas despistar Eva e Franco não havia sido fácil, ninguém dormia naquela casa e foi preciso um drible muito bem feito.
-Como vocês demoraram!
-Ai, Tomás, a gente teve que esperar uma brecha pra poder escapar.
-Ai, acho que a gente chamar a polícia! -Alice fica nervosa.
-O Diego disse que havia avisado, mas que não iria esperar. -Pedro informa os amigos. -Vamos lá, pro lugar onde ele disse. A essas horas ele deve estar longe.

 Em sua sala, em plena madrugada, Jonas ouve a denúncia e não acredita.
-Mas agora ele passou de todos os limites. Não vai ter jeito, eu vou ter que entregar o Fábio às autoridades. Obrigada pela informação e fique tranquila, tudo será mantido em sigilo.
-Eu só fiz o que achava certo. Eu ouvi o Binho conversando no celular e não tive dúvidas de que estava falando com marginais sobre o sequestro. Fiquei sabendo pelo Diego que ele já havia feito algo parecido antes e até usado de um "boa noite cinderela".
-Sim, esse rapaz é obcecado pela Roberta. Só não imaginei que chegasse a esse extremo. -Jonas pensa longe. - Mas não se preocupe. -Ele está certo da decisão. -E mais uma vez, obrigada por sua colaboração Marina.
 Com um aspecto amedrontado, Binho observa a menina sair da sala de Jonas, mas antes que possa abordá-la, Juju e Sosô vem até ela curiosas e o garoto é obrigado a recuar.

 Completamente eufóricas elas praticamente arrastam Marina com elas, a enchem de perguntas.
-Desculpa gente, eu não posso falar. É muito arriscado, espero que entendam.
-Ah, não pode contar nada? A gente não conta pra ninguém!!
Indecisa a menina acaba ficando e contando tudo para as duas que escutam de queixo caído. Não é difícil imaginar que depois todos já estavam sabendo que Binho era o culpado pelo sequestro de Roberta.
-Ah, eu não acho que foi ele. -Pilar comenta na sala de estar.
-Deixa de ser boba, ele é um marginal! -João chega na sala.
Todos começam a discutir e opinar, a maioria, claro acreditava que ele fosse mesmo o culpado.
-Mas onde ele tá?
-Fugiu Pilar. Pra você ver o quanto ele é inocente! Foi só chamar a polícia que ele pegou as coisas do quarto e deu no pé.

 Ninguém sabe o que é certo ou não, porém a dúvida não é os maior problema à essa altura do campeonato.
As pernas que não descansam na correria já no amanhecer do dia, parecem nem perceber o cansaço depois de tanto tempo de caminhada. Diego sabia pelo telefonema de Marina, onde deveria encontrar Roberta.
-Ela disse que eles deixariam ela livre à noite. -Pensa ele. -Onde será que ela tá?
Diego pega o celular para tentar um sinal, mas não consegue. O lugar onde está não é o mesmo onde havia procurado da outra vez. Era um local baixo, longe da praia e pouco frequentado para acampamentos e trilhas.
 Ao ouvir chamarem seu nome ele fica atento.
-Pedro? -Diego corre até uma pedra alta e tenta avistar. Percebe que o amigo está acompanhado de três policiais com lanternas iluminando de um lado e dois cães farejando de outro.
-Ele está ali!
 Diego parece avistar algo do outro lado e sai correndo. Nesta mesma hora os policiais juntamente com Pedro resolvem segui-lo e impedir que fuja.
 A correria sobre as pedras, galhos secos pelo campo mal coberto, perseguição meio no escuro com o sol ainda escondido.
Eles o perdem.
 Diego para um instante ao vê-la. Talvez um milésimo de segundo que pudesse fazer com que sentisse a vida entrando novamente dentro do seu ser. Um respiro fundo e ele corre até a pedra onde está deitada.
 -Roberta! -Ele a olha desacordada e novamente se angustia.
-Roberta acorda fala comigo!
 Ele se senta sobre a pedra baixa. Segura a cabeça dela e coloca sobre o colo. Alisa seus cabelos e o rosto. Se aproxima sem saber o que dizer. Ao beijar de leve sua boca, foi como se tentasse despertá-la como se fazem nos contos. A diferença entre o conto e a realidade, é que não garantimos na vida os finais felizes.

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